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quarta-feira, 31 de agosto de 2011

"Napola" Elite für den Führer (Before The Fall)













por Oscar Peyrou Karlovy Vary (República Checa), 6 jul (EFE). "Napola", um violento filme alemão de Dennis Gansel sobre as escolas criadas pelo Terceiro Reich para educar os jovens com métodos humilhantes, foi exibido nesta segunda-feira, no festival de Karlovy Vary.

"Napola" é a sigla em alemão dos Institutos Político-Nacionais de Educação criados por Hitler para sentar as bases de uma "nova raça".

Através de múltiplos testes, eram escolhidos os adolescentes mais capazes psíquica e fisicamente para serem educados como a elite que governaria a nova sociedade.

Os métodos utilizados pelos professores visavam à total degradação dos alunos para que eles pudessem ser manipulados por seus chefes em todas as circunstâncias.

O tema do filme foi tabu durante muitos anos, já que os egressos dessas escolas não gostavam de falar sobre suas experiências juvenis, freqüentemente humilhantes.

Como eram crianças, não se submetiam voluntariamente às pressões psicológicas, mas obedeciam as ordens de seus pais e professores.

As escolas tornavam-se uma espécie de família substituta à qual eram confiados os jovens indefesos para o doutrinamento.

Eles, de fato, foram engolidos pelo regime nacional-socialista, como nenhuma outra geração o tinha sido antes.

O ator Hardy Kruger, que estudou em um desses institutos, fala de "feridas na alma". Mais de 15.000 meninos e meninas passaram por alguma dessas escolas de elite da Alemanha nazista.

Em 1945, havia quarenta "Napolas", e era planejada a criação de mais cem para o período posterior à "vitória final" do Reich.

Os estudantes eram treinados também militarmente e usavam uniformes. Como foi dito, o objetivo principal era a transmissão da ideologia nazista.

Hitler pensava que a construção do "novo homem" levaria duas gerações. No entanto, o método não durou sequer uma: depois de doze anos, o "Reich de Mil Anos" foi liquidado.

Dennis Gansel disse, antes da exibição do filme, que a primeira notícia que teve desses institutos veio através de seu avô, que tinha sido professor em um deles, aos 24 anos, em 1940.

O avô contou sobre as duras condições de ensino, mas também da camaradagem, que continuou cultivando com muitos ex-cadetes até sua morte.

O outro filme apresentado hoje na sessão competitiva oficial foi o islandês "Niceland", de Fridrik Thor Fridriksson. A obra conta uma história melodramática de um casal de namorados com problemas mentais que lutam por sua difícil felicidade em uma problemática sociedade de consumo.

"Niceland" é outro drama que, assim como "Napola", abusa do sentimentalismo. Neste caso, o diretor, além disso, se diverte nos golpes baixos e na descrição grosseira da psicologia dos personagens.

Este é o oitavo filme de Fridriksson, cuja obra mais conhecida é "Born Náttúrunnar" ("Filhos da Natureza", no Brasil), de 1991, seu segundo longa, que foi indicado ao Oscar.

Em geral, o cinema do diretor islandês pretende mostrar as raízes da cultura de seu país, mas, como neste caso, o que apresenta se parece suspeitosamente aos costumes popularizados por Hollywood.

Assim como o filme alemão, baseado em fatos reais, ele tem uma estrutura mais americana do que européia.

A crise cristã


...Para que nos espitualizemos, precisamos aprender a deixar para trás nossa própria identidade religiosa oficial, ou seja, deixar para trás o fariseu que se esconde em todos nós, porque, como Jesus nos disse, temos que deixar para trás toda a nossa identidade. Para que possamos nos tornar um com nós mesmos, com Deus, precisamos renunciar e transcender a todas as imagens de nós mesmos, todas elas originadas na mente febril do ego, para que nos tornemos verdadeiramente humanos, verdadeiramente reais, verdadeiramente humildes.

Nossas imagens de Deus, da mesma forma, deverão cair. Não podemos ser idólatras. Curiosamente, o que descobrimos é que elas caem, assim como caem as imagens de nossa identidade, o que sugere aquilo que nós já havíamos adivinhado, que nossas imagens de Deus são na verdade imagens de nós mesmos. Neste maravilhoso processo de entrada para toda a luz da Realidade, de afastamento da ilusão, um enorme silêncio emerge a partir do centro. Nos sentimos engolfados pelo eterno silêncio de Deus. Não estamos mais falando com Deus, ou pior, falando com nós mesmos. Estamos aprendendo a ser, a ser com Deus, a ser em Deus.

Na jornada espiritual, aquietar-se consome mais energia do que correr... A maioria das pessoas gasta tantas das suas horas de vigília correndo de uma coisa para outra, que acaba por temer a quietude e o silêncio. Podemos ser acometidos por um certo pânico existencial, quando encaramos a quietude pela primeira vez, quando pela primeira vez entramos nesse estado de puro ser. Todavia, uma vez que possamos reunir a coragem para encarar este silêncio, adentramos a paz que está além de toda compreensão.

Sem dúvida, será mais fácil aprender isso em uma sociedade equilibrada e estável. Em um mundo turbulento e confuso, há muito mais vozes mais enganadoras, tantos apelos à nossa atenção. No entanto, a visão cristã é intransigente em sua sanidade, sua rejeição ao extremismo, no convite que faz a cada um de nós no sentido de termos a coragem para nos tornarmos nós mesmos, e não apenas reagirmos a alguma imagem de nós mesmos que nos seja imposta de fora.

Em nossa experiência da meditação, o que cada um de nós deve aprender é que a energia para a peregrinação, de fato, está presente de modo inexaurível. Precisamos apenas de um passo de fé, para que possamos aprender isso a partir de nossa própria experiência. Aquilo que é importante lembrar é que um passo real, ainda que vacilante, tem mais valor do que qualquer número de viagens vividas na imaginação.

- John Main, OSB
Reproduzido via site da Comunidade Mundial de Meditação Cristã no Brasil, com grifos nossos.

Fonte: The present Christ (New York: Crossroad, 1991, pgs. 74-76).
Tradução de Roldano Giuntoli.

Por que os cristãos devem defender os direitos dos homossexuais


Existe uma certa tradição no cristianismo que consiste em negar a sexualidade. Essa tradição não é, de maneira nenhuma, “correta”, “divina” ou “bíblica”. É uma tradição espúria, um ascetismo que pode ser creditado às influências de religiões muito mais antigas que o cristianismo.

Essa tradição pode ser creditada em parte a Agostinho de Hipona, também conhecido como Santo Agostinho, o mais importante dos chamados “pais da igreja”, e certamente uma das maiores colunas daquilo que se entende por ortodoxia cristã. Para ele, o “pecado original” tinha conotação sexual, e vinha transmitido de Adão para toda a raça humana quase como uma doença venérea que passa de pai para filho. Tal tradição associou-se fortemente à noção de perdição-salvação que formou a base de uma teologia que tem pouco de cristã, se pensarmos essa palavra como relacionada ao ministério de Cristo.

Os principais personagens bíblicos sobre cujas vidas sexuais há algo mencionado nos relatos não são exatamente os bons exemplos de “virtude” e “pureza” que hoje certos grupos identificam como qualidades cristãs. A ideia de controlar a sexualidade das pessoas não tem nada de “bíblica” ou “cristã”. Não há por que imaginar que um adulto não possa decidir quem ele quer beijar, em que posição ele quer transar, com que tipos de roupas ou apetrechos, ou quaisquer outros detalhes que não vou mencionar aqui.

Os limites da sexualidade moralmente aceitável devem ficar claramente dentro daquilo que podemos definir como ética cristã: a inexistência de violência, o respeito ao próximo, a compreensão, o amor, o carinho. Fatores que certamente não excluem as relações homoafetivas — e, por outro lado, não podemos deixar de lembrar que certamente estão ausentes em diversos casais heterossexuais.

Dificilmente alguém poderia usar de argumento teológico ou mesmo do relato bíblico para condenar condutas sexuais consentidas entre adultos. Trata-se, na verdade, de outras questões, muito mais mesquinhas.

Os judeus tinham suas regras muito claras, que incluíam o apedrejamento de mulheres adúlteras. É fácil lembrarmos de como Jesus trata desses casos no relato dos Evangelhos. Estão lá essas mulheres sendo defendidas pelo Mestre em histórias narradas no capítulo 8 do Evangelho de João, no final do capítulo 7 de Lucas, ou no capítulo 4 de João.

Jesus estava pronto a apontar a incoerência dos homens religiosos de seu tempo, que estabeleciam suas hierarquias de pecado conforme certos interesses. O que nos mostra que a moral sexual que os religiosos arrotavam não era nada de origem divina. Era mera formalidade, coisa para estabelecer que uns seriam melhores que outros, exatamente o tipo de estereótipo que o Cristo sempre se dignou a quebrar.

Em tempos posteriores, pensou-se que o fato de o relato dos Evangelhos não descrever que Cristo tivesse se casado devesse ser tomado como exemplo de santidade, reforçado pelo exemplo do apóstolo Paulo. Assim, surgiu o monasticismo cristão, e a noção de que uma vida sem sexo era uma vida livre de pecado. Os seres melhores e mais santos seriam aqueles que não copulavam (a verdade é que muita coisa sempre aconteceu dentro dos mosteiros, mas vamos tomar a inocência por admissível). Os mais fracos seriam os que não resistiam ao “desejo da carne” e mantinham a procriação da espécie. Entretanto, o ato não poderia ser tomado como fonte de prazer, especialmente pelas mulheres – que deveriam ter o exemplo de Maria como máximo. Engravidar e dar a luz sem ter transado tornou-se o inatingível ideal a ser perseguido.

O celibato se impôs como necessidade econômica no momento em que a produção coletiva dos mosteiros era capaz de fazer a diferença entre a vida e a morte de populações em vastas regiões da Europa e do Oriente Médio. O clamor pelo celibato vinha do povo para os clérigos, pelo exemplo que contrastava a vida corrupta dos bispos “seculares” em comparação aos homens santos dos mosteiros.

De modo semelhante, a família nuclear burguesa pareceu o melhor arranjo ao mundo das transações comerciais urbanas, enquanto desarranjos sexuais podiam pôr a perder a economia e subsistência da população. No mundo urbano que se desenhava na Europa do século XVI, uma das principais medidas das reformas religiosas que sacudiram o continente junto com revoluções políticas foi a abolição do celibato e do monasticismo, e o surgimento de uma teologia da família. A necessidade da existência da família nuclear como modo de fazer frente às necessidades produtivas da vida moderna talvez tenha feito com que os hábitos sexuais continuassem sendo tão vigiados.

Não existe mais necessidade disso, entretanto o cachimbo faz a a boca torta. Ninguém é capaz de dar razão plausível, mas a condenação de certas condutas sexuais é hábito arraigado. Isso leva pessoas a agredirem outras na rua por expressão de afetividade que julgam não tolerável. O mesmo tipo de reação condicionada, irrefletida e brutal, leva ao clamor que faz com que líderes religiosos mais interessados em serem bem vistos por seu público alvo do que em manterem-se fiéis à Verdade são capazes de bradar de seus púlpitos contra as condutas sexuais que são julgadas intoleráveis.

Os jovens devem-se resguardar do sexo, bradam pastores e padres. O sexo é só para casados, seguem os inquisidores. Só pode ser heterossexual, normatizam os que se arrogam a posição de líderes do rebanho. E assim barram-se no Congresso brasileiro as leis que punem a violência contra homossexuais. “É para defendermos a lei de Deus”, argumentam os falsos pastores. Deveriam dizer: “É para podermos continuar usando a violência verbal, institucional e física para coagir a obediência às nossas leis, que as fazemos e colocamos na boca de Deus”.

E barram-se as iniciativas para que a afetividade homossexual possa ser discutida na escola. E segue-se usando a intolerância contra decisões de foro individual – achamos que temos o dever de bater, prender, internar, condenar quem usa roupa assim ou assado, fuma isso ou aquilo, transa desse jeito ou daquele, com essa pessoa ou com aquela.

Nada mais tolo, desumano e injusto. Obviamente não há nada de cristão em praticar ou defender este tipo de violência insana. Defender o direito de cada um à expressão de sua própria sexualidade é uma obrigação moral e, como tal, uma ordem de Deus. Não há mais o que esperar: nós, cristãos, devemos tomar posição a respeito.

Fonte:
Amalgama

Não nascer em vão


Pe. Geovane Saraiva


Todo ser humano, por decisão de Deus, entra neste mundo com uma vocação, primeira e fundamental, que é a sua própria existência. Vocação para ser gente, para ser criatura humana. Por isso mesmo é muito importante pensar naquilo que nos é proposto durante a trajetória de nossa vida. Cícero, o maior orador romano, ao tratar sobre a idade da vetustez, que significa mais do que velhice ou idade avançada; quer dizer reverência e respeitabilidade, afirmou: “Vivi de tal forma, que sinto não ter nascido em vão”.


Já Dom Helder Câmara gostava de dizer: “Feliz da pessoa que atravessa a vida tendo mil razões para viver”. À medida que a pessoa humana entende que é necessário percorrer com muita disposição o seu percurso natural, interiormente cresce, encontra-se consigo mesmo e se integra na comunidade em que reside, dando sua contribuição através do serviço, do anúncio e do testemunho.

Concretamente, constatamos esse tipo de procedimento com facilidade em nossas comunidades, que nos faz compreender as pessoas que querem viver a sua vocação, de tal maneira, que desejam tomar como suas as palavras de Cícero, na certeza de que no final chegará à recompensa, promessa do próprio Deus. É claro que as pessoas procuram tesouros de felicidade, bem estar e realização. Agora, uma coisa é importante e necessária, ter clara consciência do tesouro que está escondido, dentro de nós.

Quando afirmamos que a vida não foi em vão é porque temos na mente a recompensa, que supõe o merecimento, frequente nas palavras e ações de Jesus, ao falar da vida eterna como uma promessa, como uma dádiva do Pai para os que nele professam sua fé. É um dom, que de alguma maneira é preciso ser conquistado, tendo na mente e no coração o que disse Jesus: “Caríssimos, desde já somos filhos de Deus, mas nem sequer se manifestou o que seremos! Sabemos que, quando Jesus se manifestar, seremos semelhantes a ele” (1Jo 3, 1-2)

Pessoas que vivem assim compreendem em profundidade o Reino de Deus, na sua beleza e na sua preciosidade, como tão bem nos assegura o Filho de Deus: “O reino dos céus é semelhante a um tesouro escondido num campo. Um homem o encontra e o mantém escondido. Depois, cheio de alegria, ele vai, vende tudo o que tem e compra aquele campo (Mt, 13, 44). Para vivermos bem, na concórdia e em harmonia com Deus, com o mundo e com nossos semelhantes, urge perseguir esse ideal, preenchendo nosso coração, sedento e ávido de felicidade.

O Reino nos aponta para a eternidade. É tarefa nossa fazer de tudo, mas de tudo mesmo para descobrir seu valor inigualável, maior tesouro que podemos encontrar como aspiração mais profunda, porque nele está nossa motivação e nossa razão pela qual somos capazes compreender e discernir o relativo do absoluto, de compreender os mistérios do Reino com dom gratuito, e por isso mesmo, o nosso esforço gigantesco, de sempre mais tê-lo conosco.

São Mateus, no seu Evangelho, usa a expressão “reino dos céus” mais de trinta vezes, querendo dizer, quase sempre: “Arrependei-vos, porque está próximo o reino dos céus” (Mt 3, 2). Descobrir os mistérios do Reino significa ter mente, ouvidos e olhos abertos para o novo, para o que ainda não conhecemos e que não devemos colocar nossas seguranças e convicções, no nosso modo pensar e agir, como algo absoluto. Quando depositamos confiança e expectativas nas pessoas, o risco de se decepcionar é grande. Podemos pensar o Reino de Deus como um jardim. No jardim, no dizer do Poeta Mário Quintana, “o segredo é não cuidar das borboletas, mas sim do jardim, para que as borboletas venham até você”. Por analogia, segredo é cuidar do tesouro, um maravilhoso dom, que é o próprio Deus.

É deste modo que haverá mais gente querendo usar de seus dons e talentos, não para explorar seus semelhantes, mas usando-os para fazer o bem, como uma esperança de ver seus sonhos utopias de um mundo justo, terno e solidário transformado em realidade. Pensemos na célebre frase do grande Santo Agostinho: “Meu coração está inquieta, enquanto em vós não descansar”, seguros de que não nascemos em vão.

Fonte:
O Arcanjo no Ar

Prayers for Bobby


Um excelente filme sobre religião e homossexualidade. O filme trata da história da luta de uma mãe ao lidar com a homossexualidade do filho. Este filme é particularmente especial porque foi baseado em fatos reais. Não é um script de roteiro inventado dramatizado para atrair platéias ou filme político-partidário visando conduzir a opinião pública. Apenas focou-se em relatar a história completa de um caso em particular. Talvez por isso podemos chamá-lo de “neutro”, pois revela os pontos podres tanto da religião quanto dos meios homossexuais.
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Bobby era um garoto de excelente currículo: inteligente, bonito, queria ser escritor. Atraia facilmente qualquer garota que quisesse. Mas não queria. Incomodado com isso revela ao irmão mais velho que é homossexual. A família de Bobby era muito unida e imediatamente a família inteira se dispôs de ajudá-lo na melhor maneira que fosse. Sua mãe, Mary, preocupada com a saúde e segurança do filho, recorreu à sua educação cristã tradicionalista que teve para tentar mostrar ao filho que havia sido “recrutado” por outros homossexuais pecadores.
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Por outro lado, Bobby não se sentia dessa forma e percebeu que tinha dois caminhos: o de seguir os conselhos da mãe de tentar “curar” sua homossexualidade, ou o de atingir as promessas de mundo livre e de prazeres do envolvente mundo gay. Assim sendo, passou a freqüentar um bar para homossexuais em sua cidade chamado Armory, onde tentava envolver-se com outros homossexuais. Em uma cena do filme mostra Bobby se beijando com outro homem, mas por alguma razão, chateou-se com o ambiente e foi embora para casa.
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O comportamento de Bobby também se altera: de uma hora para outra passa a chegar em casa cada vez mais tarde, larga a escola e não deseja mais ir à faculdade. Muita parte desse comportamento pode se dever em parte porque ele era tão conectado à sua mãe, de forma que, seu comportamento mudava à medida que a mãe também mudava. Ela procurou ler leituras sobre a homossexualidade de uma perspectiva religiosa e estava realmente acreditando que a homossexualidade era anormal e pecaminosa. Procurou ajuda psiquiátrica, levou Bobby para cursos na igreja adventista, incentivou o pai e o irmão se envolverem mais na vida de Bobby e até tentou arrumar-lhe uma namorada. Conforme a mãe assumia uma postura radical, Bobby fazia o mesmo, vestindo-se diferente, andando com mão na cintura e levando “amizades” estranhas para casa.
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Um dia, uma prima da qual gostava muito vem visitá-los e convida Bobby a ir à Portland. Lá ele se interessa por um rapaz chamado Daniel e ambos se envolvem profundamente. Daniel procura apoiar Bobby, incentivando sua autoestima, a enfrentar sua mãe e fazendo-o crer que ela devia aceitar as coisas como são. Bobby passa a ver Portland como uma espécie de “refugio”. Decide se mudar para lá, conseguindo manter contato com alguém da família – sua prima – , focar no seu projeto de ser escritor, além também de ser uma cidade com estrutura aparentemente melhor para receber homossexuais, tanto do ponto de vista de entretenimento (bares, restaurantes, boates etc), quanto do ponto de vista religioso, pois Bobby encontra a Igreja Comunitária Metropolitana, na qual passa a freqüentar. Entretanto um vazio muito profundo toma conta de Bobby. Numa noite ele liga para Daniel e este não atende ao telefone e parece ter lhe dado as costas. Desiludido, Bobby decide cometer suicídio, jogando-se de uma ponte em cima de uma rodovia.
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A conexão entre a mãe e Bobby era especialmente profunda, pois de todas as coisas que poderia encontrar em Portland, apenas uma não poderia achar, que era a sua mãe. Ela tinha sido relutante à idéia do filho ir para aquela cidade, pois sabia que o filho estava indo por causa de um rapaz. Vendo na televisão que a epidemia de AIDS no inicio dos anos 80 começa a se espalhar rapidamente entre homossexuais, a mãe teme pela vida do filho, pela sua segurança e saúde. Certa de que os ambientes freqüentados por Bobby não seriam saudáveis, a mãe toma a decisão de não despedir-se do filho quando ele viaja.
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A morte de Bobby deixa a mãe transtornada, pois esta queria mesmo reencontrar a família no Paraíso, sem nenhum membro faltando por estar no Inferno pagando pelos pecados. Sua educação lhe diz que todo homossexual e suicida vai parar no Inferno e isso a deixa transtornada, pois sabia que no fundo, Bobby não era uma pessoa má e não merecia esse destino. Os pastores de sua igreja não conseguem atender à dor da mãe e respondem apenas reafirmando mais ainda sua condenação à homossexualidade. A mãe, em busca de respostas, passa a ler o diário do filho e descobre que ele freqüentava a Igreja Comunitária Metropolitana. Ela vai lá, e pergunta ao pastor sobre passagens bíblicas escritas no Levitico, sobre a lenda de Sodoma e Gomorra e entre outros. O pastor responde às suas dúvidas e apresenta a ela outra mulher, também mãe de homossexual. Esta lhe convida para ir a uma sessão de um grupo de apoio a pais homossexuais.
Só depois de meses, finalmente percebe que seu filho não estava envolvido em pecado algum e passa a acreditar que seu comportamento, ao invés de ajudar o filho como esperava, acabou prejudicando-o. Tomada pela dor e sentimento de culpa, passa a se envolver mais no ativismo gay. Numa audiência pública pela criação de uma data “dia dos homossexuais”, ela se levanta e discursa a uma platéia.

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O final dessa história é particularmente interessante, pois Bobby não acreditava que sua mãe pudesse um dia mudar de sua postura tradicionalista. Estava enganado, pois isso ocorreu em questão de meses. Uma coisa que chama a atenção é que a propaganda homossexual em geral promete um estilo de vida “libertador”, do tipo que se acha permitir livrar as pessoas de um mundo de mentiras e permiti-las “curtir a vida”. Não se pode condenar a religião, ou até mesmo a suposta “postura homofóbica” da mãe quando os mesmos ambientes homossexuais não conseguiram acolher Bobby. Ele não sentiu alívio freqüentando boates de homossexuais e tão pouco indo à Igreja Comunitária Metropolitana. No final, só a mãe de Bobby poderia ajudá-lo, era o amor dela que ele precisava, mas a impaciência e a sede de viver o levaram à Portland, distanciando-se da mãe. No final, pode-se dizer que Bobby foi iludido por uma falsa propaganda de liberdade.

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

As bolhas no meu sangue



"O nitrogênio residual é o nitrogênio remanescente no corpo após um mergulho, cujo tempo de demora para ser eliminado depende do tempo de mergulho e da profundidade atingida. (...) Caso a eliminação do nitrogênio residual seja deficiente (...) pode ocorrer a geração de bolhas de nitrogênio que não conseguem ser eliminadas do corpo humano, ficando retidas em tecidos ou na circulação sanguínea. Esta ocorrência é chamada de doença descompressiva."
— Wikipedia

Quando passo pelo aquário que decora o hall de um dos prédios da faculdade onde dou aula, sempre paro um minuto para olhar os peixinhos levando sua vida encaixotada. Eles, assim como nós, estão sempre alheios a um detalhe que só nos damos conta raramente: ambos, eu e os peixinhos, estamos mergulhados em um fluido, ele no líquido e eu no gasoso. E nem nos damos conta disso, a não ser nesses momentos reflexivos.

Peixes não costumam se aventurar muito do lado de fora de seu ambiente (alguns, sorte nossa, desconhecem essa regra...), mas nós humanos desenvolvemos um sem número de técnicas, ciências, equipamentos, máquinas e veículos que nos fazem ir lá onde os peixes vivem, mesmo nas profundidades mais abissais junto de seus parentes mais bizarros. O problema de ir tão fundo (e para humanos, qualquer 10m já configura uma atmosfera extra de pressão sobre nossos frágeis corpos) nem é vencer a profundidade, mas voltar dela.

Não sei quanto falta. Talvez nunca chegue a respirar ar limpo e puro de novo. Mas a pressão incômoda das tradições, da religião, da misoginia, principalmente do cáustico e silencioso machismo, talvez a substância mais resiliente da tabela periódica dos preconceitos, vai ficando cada vez mais para baixo. Já consigo ver o bruxulear da luz clara do sol atravessando a ondulante linha d'água. Tenho algumas bolhas no sangue, mas vão ser reabsorvidas ao longo da subida. Se ainda estou consciente que ainda estou imerso no frio oceano cultural que fui mergulhado quando criança, é com orgulho que vejo que estou hoje mais perto da superfície que estava ontem.

Ser gay e ser católico




Acreditamos firmemente na incondicionalidade do amor de Deus por cada um de seus filhos. Acreditamos também que a Boa Nova de Cristo foi, sim, que Ele veio para todos, sem distinção, e que a todos ama igualmente. Acreditamos que Cristo veio também para os excluídos, para os oprimidos, para os incompreendidos, para os perseguidos por serem aquilo que são.

Acreditamos na Santa Igreja Católica - a qual é não apenas o Magistério (a hierarquia do Papa e dos bispos), mas sim o corpo do povo de Deus que crê em Jesus Cristo e procura viver de acordo com Ele. Acreditamos que as posições do Magistério no decorrer de dois mil anos de história já passaram por inúmeras transformações e estão em constante mudança. E é preciso que seja assim, porque a revelação de Deus para nós se dá ao longo da História.

Esclarecemos que a posição oficial do Vaticano hoje, tal como expressa no Catecismo da Igreja Católica, não é de que a homossexualidade deve ser "combatida"; pelo contrário, a Igreja reconhece que os homossexuais foram criados por Deus tal como são e "devem ser acolhidos com respeito, compaixão e delicadeza. Evitar-se-á para com eles todo sinal de discriminação injusta" (Catecismo da Igreja Católica, 2358).

Do mesmo modo, a Igreja tampouco atribui ao papa ou à hierarquia do clero a primazia de detentores da Verdade. Com efeito, desde o Concílio Vaticano II e tal como expresso também no Catecismo da Igreja, esta reconhece o primado da consciência individual em sua relação com Deus.

O Vaticano II reconhece que cada ser humano deve antepor qualquer dever ou lei à sua própria consciência. “A consciência é o núcleo mais secreto e o sacrário do homem, no qual se encontra a sós com Deus, cuja voz se faz ouvir na intimidade do seu ser”, diz o parágrafo 16 da Constituição Dogmática Gaudium et Spes.

O documento citado indica que a mediação plena para a ação do homem é a sua consciência. Obedecer à consciência é o que se pode fazer de melhor para agradar a Deus.

Para quem quiser se aprofundar no tema, indicamos a leitura das perguntas frequentes no nosso site -sobretudo a resposta a "Se a Igreja condena a homossexualidade, como é possível uma pessoa gay ser católica?".

Caso você tenha qualquer dúvida ou divergência e queira conversar, caro leitor, será sempre bem-vindo para uma saudável troca de idéias. Acreditamos que só com respeito às diferenças, tolerância e diálogo fraterno podemos efetivamente crescer no amor de Deus e cumprir a missão de ajudar na construção do Reino do Pai, que é também de cada um de nós.

Nosso forte e caloroso abraço.

Equipe Diversidade Católica

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Post publicado originalmente em 25/01/2011

Cristianismo maduro e responsável






Um comentário num post a respeito do Diversidade Católica num blog amigo andou nos dando o que pensar. O autor do comentário em questão, James Figueiredo, defendia que todos os cristãos são inimigos dos gays, e justificava:


Todas (veja bem, TODAS) as religiões abraâmicas são nossas inimigas, e não entendo o que mais seus representantes precisam fazer pra enxergarmos isso (a última semana foi bastante elucidativa nesse ponto).

E, sinceramente, admirar gays que lutam pra conciliar sua homossexualidade com suas superstições religiosa? PUH-LEAZE.

Gays religiosos são como...sei lá, judeus nazistas. Deveríamos é nos esforçar pra libertá-los dessas prisões que só alimentam suas dúvidas e minam sua auto-estima.


Ficamos imensamente gratos ao James, pois suas palavras deram margem a uma reflexão acerca do significado do cristianismo para os gays (leia a resposta na íntegra aqui), que reproduzimos em parte a seguir:

(...) Essa resposta é importante porque você, James, não é o único a pensar assim, e te agradeço muito por ter exposto a sua opinião. (...) Gostaria de sublinhar alguns pontos importantes a respeito deste tema, que talvez às vezes não fiquem claros para todo mundo.

Primeiro, religião e espiritualidade são coisas distintas. É muito comum as pessoas se esquecerem disso. Religião tem a ver com sistemas mais ou menos institucionalizados de expressão de uma determinada crença, estruturados ao longo do tempo, da história e das transformações culturais de um determinado povo ou grupo social. Em parte, é uma forma de expressão da espiritualidade tanto de cada membro desse povo ou grupo quanto do grupo em seu conjunto, mas envolve muitos outros fatores de ordem social e cultural também.

Já espiritualidade tem a ver com a necessidade humana de transcendência, isto é, de atribuir um significado à sua existência, um sentido à vida, um propósito à sua presença aqui e agora. Trata-se do conjunto de respostas que cada um procura dar àquelas perguntas que nos fazemos desde crianças: de onde vim? Para onde vou? Por que estou aqui? Para que estou aqui? Qual o sentido de tudo isto? Cada um encontra suas próprias respostas distintas, mas em geral todos nós nos deparamos com essas perguntas, e não sossegamos enquanto não encontramos uma resposta – embora seja comum também as respostas irem mudando ao longo da vida, mas isso já é uma outra história... :-)

O que acontece é que nós do Diversidade Católica encontramos no credo cristão, e especificamente na forma católica, a maneira com a qual mais nos identificamos para expressar nossa espiritualidade. Isso significa que o que dá sentido às nossas vidas é a mensagem evangélica de amor e serviço ao próximo, à luz de um Deus que é Pai e ama a cada um de seus filhos de maneira irrestrita e sem condições. E mais: o fato central e específico da nossa crença é que Cristo foi Deus encarnado como homem. Um Deus que se faz humilde e serviço aos seus filhos amados; que por amor se reduz à forma humana, por amor prega uma doutrina revolucionária, desmascarando todas as hipocrisias dos poderosos e da elite religiosa de seu tempo, e por amor aceita ser morto por essas pessoas, a fim de levar às últimas conseqüências sua mensagem de amor, humildade e não-violência. E, por amor, vence a morte e ressuscita, deixando-nos uma mensagem de esperança de que, por pior que as coisas sejam, no fim, Ele a tudo supera. (Se quiser se aprofundar nesse tema, dê uma olhada em “A Cruz: suplício ou esperança?” e “No sofrimento, Deus luta pela vida e solidariza-se com aquele que sofre”)

Desculpe, James, esse breve resumo da nossa profissão-de-fé, mas ele é importante para explicar que a crença na encarnação de Deus na figura do Cristo tem uma conseqüência fundamental para os cristãos: o fato de que é no humano, e não em uma imagem de Deus, qualquer que seja ela, que encontramos a transcendência, isto é, o significado último da nossa existência. É no serviço ao Outro que encontramos sentido. O projeto cristão, em sua origem, não é um projeto religioso (veja “O Cristianismo: uma religião ou a saída da religião?”); não é sequer um projeto de fé. É, antes de tudo, um projeto ético. (A esse respeito, dê uma olhada em dois posts nossos desta semana, de um teólogo espanhol: “Deus não está na fé, mas na ética” e “Estamos procurando Deus nos lugares errados”).

Chego então ao segundo ponto que gostaria de sublinhar: você certamente conhece cristãos cujas palavras e atos não têm nada a ver com o que acabo de expor. Eu conheço muitos; talvez até sejam a maioria. Ocorre que, ao longo desses dois mil anos de história, à medida que a história do cristianismo se misturava à história da Igreja e esta, à história do poder no Ocidente – taí aquela distinção entre espiritualidade e religião, viu? – foi se consolidando uma imagem de Deus que de certo modo se distanciou da mensagem evangélica. Por influências culturais (a absorção da doutrina estóica nos primeiros cinco séculos de nossa era, por exemplo, trouxe uma visão do corpo e da sexualidade como algo impuro, quando isso não era em absoluto um elemento original do cristianismo) e históricas (a desintegração do Império Romano, por exemplo, que alçou a Igreja à posição de centro agregador da cultura e da estrutura social da Europa Ocidental na Alta Idade Média), consagrou-se a imagem de um Deus identificado com o poder – e, de roldão com esse poder, veio a imagem de um Deus que julga, que oprime, que impõe ao homem o que é certo ou errado. Ou seja, um Deus que é um monarca totalitário e autoritário, profundamente humano, e que tem a importante função social de justificar as humanas estruturas de poder de seu tempo. Justamente a imagem e função de Deus tão criticada por Cristo em seu tempo. E justamente a antítese, portanto, do cerne da mensagem evangélica.

A questão é que, com o advento da ciência, esta nos fez o favor de desvincular da religião a prerrogativa de todo o saber sobre o mundo e explicação da vida. O que é ótimo, porque embora essa função tenha tido sua importância num determinado momento histórico, hoje a ciência a cumpre muito melhor. E pode restar à religião concentrar-se na espiritualidade – e esta, por sua vez, naquilo que só ela faz: dar conta da necessidade humana de transcendência.

O problema é que ainda existe por aí aquela imagem de um Deus opressor etc. E essa imagem é cada vez menos satisfatória, tem cada vez menos a ver com os anseios do coração humano. Daí o êxodo que as religiões mais institucionalizadas, especialmente os cristianismos, vêm sofrendo: porque essa imagem de Deus simplesmente não serve mais. Ou melhor: para alguns, serve. Há quem queira um Deus assim. Há quem procure justamente um Deus que lhe diga o que fazer, que diga o que é certo e errado, simplesmente, e lhe dê a segurança de que, se a pessoa fizer o que é certo e não fizer o que é errado, vai ganhar um prêmio, nesta vida ou numa outra depois. Você certamente conhece pessoas assim. Eu conheço pencas: são os fundamentalistas.

É com base nessa visão dualista de “isso é certo” vs. “isso é errado” que os fundamentalistas atacam a nós, gays. Nós “somos” errados e pronto. É uma visão de mundo muito simples e cômoda, mas também profundamente opressiva e esmagadora. Considerar que uma relação humana – hétero, homo ou o que for – pode ser saudável ou não dependendo das escolhas dos envolvidos é muito mais complicado e difícil (mas também muito mais libertador) que simplesmente pensar que “hétero é certo” e “gay é errado”. Quer saber? Perdem muito mais eles do que nós.

Terceiro – e, pra mim, o mais importante (embora raramente as pessoas não-religiosas levem esse fator em consideração ao nos dirigirem críticas como as suas, James): assim como a orientação sexual, a pertença religiosa é um aspecto inerente à identidade de cada um; como tal, não se trata de uma escolha. Por fatores da história de cada um talvez tão inescrutáveis quanto os motivos que fazem com que alguém seja gay, o fato é que algumas pessoas são cristãs. Algumas, especificamente católicas. Nós somos católicos. E gays. E não há nada que possamos fazer a respeito. Muitos de nós já tentaram “deixar de ser” católicos. Alguns “deixaram de ser” gays, também. Não funcionou. E foi MUITO libertador quando esses puderam se dar o direito de ser gays, de ser católicos. De ser o que são, em suma. (Mais dicas de leitura: “Permanecer e transgredir” e “Ficar ou sair da Igreja?”)

Confesso, James, que me preocupa muito ler “deveríamos é nos esforçar pra libertá-los dessas prisões que só alimentam suas dúvidas e minam sua auto-estima”. Desculpe, mas isso me soa tão parecido com a lógica de “ser gay não é bom pra você, precisamos te ajudar a deixar de lado isso que te faz muito mal”! É a mesma lógica que produz as famigeradas terapias de reversão. Não seria mais profícuo um exercício de respeito e tolerância à diferença, mesmo quando a gente não consegue entender a diferença do outro?

Por fim, o quarto ponto que eu gostaria de salientar: Igreja nenhuma, instituição nenhuma é um corpo único, com uma só voz. Nisso, James, discordamos inteiramente... A Igreja não é o Magistério, o clero, mas todo o corpo dos fiéis, cada qual com sua voz – e é uma verdadeira multidão de vozes. Nem mesmo o Magistério em si tem uma voz única. A imprensa presta um verdadeiro desserviço quando anuncia "Vaticano diz que...", "Bispos dizem que...", como se essa entidade abstrata sem rosto tivesse existência própria. Alimentar essa imagem contribui apenas para a demonização desse Outro, que vira meu "inimigo".

Tome-se, por exemplo, a recente atitude da Igreja no Brasil em relação ao julgamento da união estável gay no STF: enquanto a CNBB se preocupava em mandar um advogado para falar contra a aprovação (ai, sou humana: intensos frêmitos de vergonha alheia), existe uma infinidade de cristãos, católicos ou não, clérigos ou não, que defendem os direitos civis gays. Veja os seguintes exemplos: “A Igreja de peito aberto para as minorias”; “As vozes da Igreja”; “Padre coordena grupo que lançou consultoria online para público LGBT”; “‘Não vamos fazer nenhuma cruzada’, diz bispo em SP sobre união gay”; “Os gays e a Bíblia”; “Os gays entram nas igrejas”; “A Igreja de portas abertas para as vítimas da homofobia”; "União Civil e Nossa Voz" “Católicos pela igualdade matrimonial”; “União estável homoafetiva, um direito conquistado”, entre muitos outros.

A mesma Igreja que tantas atrocidades perpetrou ao longo da História (e perpetra ainda, inegavelmente) em nome de “Deus” (entre aspas porque é aquele Deus opressor cuja imagem serve apenas à perpetuação de estruturas humanas de poder, sem nada a ver com o Deus da mensagem evangélica) é a mesma que produziu Dom Helder Camara, José Comblin, Zilda Arns, Josimo Tavares, Oscar Romero, Dorothy Stang, Frei Betto, Leonardo Boff; os agentes da pastoral da AIDS, da pastoral da terra – que vêm sendo silenciosamente martirizados no norte do país – e tantos outros que colocam o amor e o serviço ao próximo no centro e acima de suas próprias vidas.

Assim como a sexualidade ou qualquer outro aspecto da vida humana, também a espiritualidade pode ser vivida de formas mais ou menos saudáveis. O cristianismo praticado de maneira positiva, James, é menos uma questão de fé e mais uma questão de valores, de uma espiritualidade madura e de uma ética sólida, que tira o ser humano do egocentrismo e o coloca numa relação aberta e responsável com os irmãos.

O Diversidade Católica existe para isto: para delimitar um território – a identidade que é nossa por direito, porque somos o que somos, católicos E gays, e ninguém pode dizer o contrário; e para ajudar seus membros a viver e praticar um cristianismo maduro e responsável em sua relação com Deus e com os irmãos.

Mais uma vez, a quem chegou até aqui, me desculpem pela extensão da resposta, e obrigada pela paciência. (...)

Fiquem com a graça e a paz de Cristo.

A dor do mundo





Por muito tempo achei – escrevi e disse – que os males humanos foram sempre mais ou menos os mesmos, e que a loucura toda já contamina o nosso café da manhã pelo universo cibernético. As aflições, as malandragens, as corrupções, os assassinatos absurdos, os piores aleijões morais, tudo é meu, seu, nosso pão de cada dia. Mas, de tempos para cá, comecei a achar que era lirismo sentimental meu. Estamos bem piores, sim. Por sermos mais estressados, por termos valores fracos, tortos ou nenhum, porque estamos incrivelmente fúteis e nos deixamos atingir por qualquer maluquice, porque até nossos ídolos são os mais transtornados, complicados. Nossos desejos não têm limite, nossos sonhos, por outro lado, andam ralinhos. Temos manias de gourmet, mas não podemos comer. Vivemos mais tempo, mas não sabemos o que fazer com ele. Podemos ter mais saúde, mas nos intoxicamos com excesso de remédios. Drogas habituais não bastam, então usamos substâncias e doses cavalares.

A sexualização infantil é um fato e começa em casa com mães amalucadas e programas de televisão pornográficos a qualquer hora do dia. O endeusamento da juventude a enfraquece, os adolescentes lidam sozinhos com a explosão de seus hormônios e a permissividade geral que anula limites e desorienta. A pressão social e até a insistência de governantes nos impõem o deus consumo, que nos deixa contentes até as primeiras, segundas, definitivas dívidas baterem à porta: a gente abre, e está atolado até o pescoço.

Uma cantora pop, que me desinteressava pela aparência e por algumas músicas, morre, mata-se, por uso desmedido de drogas (álcool sendo uma delas) aos 27 anos. Logo se exibe (quase com orgulho, ou isso já é maldade minha?) uma lista de brilhantes artistas mortos na mesma idade pela mesma razão. Nas homenagens que lhe fazem, de repente escuto canções lindas, com uma voz extraordinária: mais triste ainda, pensar que esse talento se perdeu. Um louco assassino prepara e executa calmamente a chacina de dezenas de crianças e adolescentes num acampamento em ilha paradisíaca das terras nórdicas, onde o índice de desenvolvimento humano é o maior do planeta, e quase não existe a violência, que por estas bandas nos aterroriza. Explode edifícios, depois vai até a ilha, mata todo mundo, confessa à polícia que fez coisas atrozes mas que “era necessário”, e que não aceitará a culpa.

Viramos assassinos ao volante, de preferência bêbados. Nosso edifícios precisam ter portarias treinadas como segurança, nossas casas, mil artifícios contra invasores, andamos na rua feito coelhos assustados. Não há lugar nas prisões, então se solta a bandidagem, as penas são caca vez mais brandas ou não há pena alguma. Pena temos nós, pena por nós, pela tão espalhada dor do mundo. Sempre falando em trilhões, brigando por quatrilhões, diante da imagem das crianças morrendo de fome na Etiópia, na Somália e em outros países, tão fracas que não têm mais força para engolir o mingau que alguma alma compadecida lhes alcança: a mãe observa apática as moscas que pousam no rostinho sofrido. Estou me repetindo, eu sei, talvez assim alivie um pouco a angústia da também repetida indagação: que sociedade estamos nos tornando?

Eu, recolhida na ponta inferior deste país, sou parte dela e da loucura toda: porque tenho alguma voz, escrevo e falo, sem ilusão de que adiantará alguma coisa. Talvez, como na vida das pessoas, esta seja apenas uma fase ruim da humanidade, que conserva fulgores da solidariedade e beleza. Onde não a matamos, a natureza nos fornece material de otimismo: uma folha de outono avermelhada que a chuva grudou na vidraça, a voz das crianças que estão chegando, uma música que merece o termo “sublime”, gente honrada e produtiva, ou que cuida dos outros. Ainda dá para viver neste planeta. Ainda dá para ter esperança de que, de alguma forma, algum dia, a gente comece a se curar enquanto sociedade, e a miséria concreta não mate mais ninguém, enquanto líderes mundiais brigam por abstratos quatrilhões.

- Lya Luft
Reproduzido via Conteúdo Livre