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terça-feira, 6 de setembro de 2011
[Rembrandt - Homem nu sentado no chão com perna estendida]
Afastámo-nos. Culpa minha, em grande parte. Achei que estávamos demasiado apegados um ao outro. Achei que era excessivo. Achei que nos estávamos a prejudicar um ao outro. Não tive a clarividência de perceber o óbvio. Tu não sei se o percebeste. Acho que sim. Compreendeste, pelo menos, que, naquela altura, o nosso afastamento era inevitável e imprescindível. Sem dramas, sem zangas, acabámos por nos ir apartando. O que vivíamos não era já saudável. Era excessivo. Era como um namoro não assumido. Um namoro sem consumação física. Mas não um namoro qualquer. Era quase uma obsessão. Vivíamos um para o outro. Havia até cenas de ciúmes, disfarçadas de brincadeira. E eu não tinha a clarividência de perceber o óbvio. Tu deves tê-lo percebido. Entre nós havia aquela amizade louca, excessiva, quase passional. Mas isso não te incomodava. As coisas tornaram-se claras para ti, muito mais cedo do que para mim. Sabias onde ficavam os teus limites, e sobretudo sabias onde ficavam os meus. Sabias que eu não os ultrapassaria nunca, pela amizade louca que te tinha. Portanto isto não te incomodava. Não te incomodava ir comigo a determinados sítios. Não te incomodava que passássemos por namorados, não o sendo. Não te incomodava simulares cenas de ciúmes diante de quem pensava que éramos namorados. Porque sabias que eu nunca passaria os limites que me tinha imposto a mim mesmo. Porque te respeitava, porque te tinha uma amizade desmesurada. Além de tudo o resto. E foi porque o percebeste, e foi porque a adoração que te tinha era de facto desmesurada, que conseguimos reatar a nossa amizade de modo tão natural, como se nada tivesse acontecido. Como se ainda na noite anterior tivéssemos feito mais uma das nossas loucas saídas. Hoje percebo-o, finalmente.
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